quarta-feira, 30 de março de 2016

IMPEACHMENT E A DERROTA DE TODOS NÓS

Os governos do PT já foram derrotados, embora não nas urnas. A derrota se deveu a uma série de erros, de diversas naturezas: política, econômica, administrativa e pessoal. Mas, infelizmente a derrota do PT não se circunscreve ao declínio de um petismo, como vem sendo divulgado e reproduzido, praxe que começa a ser cada vez mais generalizada. Causa-me espanto que até intelectuais tenham acompanhado essa “reverberação” – aqui escrevo de forma irônica, porque a prática deveria fazê-los menos reféns dessa “convenção” característica da era das mídias sociais – de que a política nacional brasileira é uma luta de poder assemelhada às disputas de torcidas de futebol.
Não é! Vê-la sob essa perspectiva é um erro, cujos desdobramentos são muitíssimo graves. Uma disputa de torcidas, até uma briga se encerra com alguns feridos, ou mortos e restrições entre os torcedores. Situação que não causa maiores problemas nem para o futebol, nem para os torcedores, nem para os membros das torcidas organizadas, nem para os times, nem para os jogadores, nem para os... Minha provocação nesta última frase se refere a como pode até parecer fácil uma leitura que passa pela analogia, mas essa facilidade é radicalmente comprometedora das reais consequências nacionais da derrota do governo de Dilma Rousseff e do PT.
Vamos simplificar. Poderia elencar projetos de longo prazo que atendem aos segmentos mais pobres de nosso povo, como Bolsa Família; Minha Casa, Minha Vida; Luz Para Todos; PRONAF: (financiamento agrícola para cultura familiar), decuplicação dos IFEs, duplicação das UF e seus programas de cotas e PROUNI/FIES. Digamos que nada disso seja importante para os brasileiros, em geral. Digamos ainda que tudo não passava de estratégia eleitoral, uma vez que a grande maioria da população era pobre quando o PT chegou ao poder, há pouco mais de dez anos. Digamos também que a descoberta do Pré-sal e a forma como foi conduzida sua exploração, privilegiando a PETROBRAS tivesse sido, não para que houvesse um investimento e avanços monumentais na indústria de petróleo, naval, de tecnologia, mas exclusivamente para alimentar a corrupção.
Agora vamos à análise “futebolística” da política. O time que realizou tudo isso em treze anos perdeu o “jogo”, por erros que não se pode atribuir a ninguém que não seja o PT e seus membros. Perdeu! A questão é: o que virá dos novos técnicos que não aprovam as táticas de jogo, os jogadores convocados; são favoráveis a novas convocações e a mudanças nas regras que privilegiem outros interesses que não aqueles que vinham sendo defendidos até então? Que fim – aqui também o termo é irônico – terão esses segmentos sociais que vinham sendo, embora muito erroneamente e eleitoralmente, atendidos em suas reinvindicações mínimas?
Uma pena que não sejam membros de uma torcida, mas cidadãos de uma nação, cujo papel internacional é cada vez mais importante e estratégico. Uma nação que tem um conjunto de riquezas de vai de aguas a terras agricultáveis; de florestas a diversidades socioambientais; de minérios a petróleo. Toda riqueza que vem sendo, sistematicamente, saqueada desde 1500, contando com a colaboração da elite de nossos conterrâneos, pelo menos, desde o século XIX.
Os mesmos que sempre estiveram no poder agora o retomam e são saudados por outros brasileiros que torceram contra. Muito bem, o jogo acabou! Mas, não. Não se trata de uma disputa de futebol, mas de uma disputa política nacional que não pode ser apreendida como uma partida. Não. As perdas não serão recuperadas no próximo jogo. Não é campeonato, mas a vida real que ceifa vidas, recursos, riquezas... Não começará a ser jogada na próxima semana ou no campeonato seguinte, mas agora depois da derrota. Amanhã.
A derrota é da maioria dos brasileiros, queiramos aceitar ou não. Sejamos torcedores de qualquer dos times, ou simples simpatizantes, ou nem isso.
Não, o Brasil é nosso, de qualquer maneira - ou, pelo menos ainda é. (Mas, tem gente querendo muito leiloá-lo pela melhor comissão, é bom lembrar.)
O legado é nosso, com tudo o que tem de bom e ruim. Aliás, o que permanece ruim é também responsabilidade nossa, pois o país é nosso. Também nesse caso a responsabilidade não é somente do técnico, não. O jogo é jogado no cotidiano e é de responsabilidade de todos... Numa ditadura, alguns – em geral a maioria – é proibida de jogar. Na democracia isso não ocorre, embora, novamente, não se trata de um jogo. Sempre é mais complexo que isso. Na vida, as coisas são mais complexas...
O jogo acabou, mas a vida continua. Melhor para uns e pior, às vezes muito e pelo resto dos tempos, para outros...

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