quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

CUNHA, UM SABOTADOR DA REPÚBLICA A SERVIÇO DE QUEM?

O PMDB rasteiro, entre outros, trabalha para que essa "barbaridade política" eleja-se presidente da Câmara de Deputados. Um líder bem a altura de seus membros, certamente, mas muito aquém do povo brasileiro. 

A questão é, se sabota a República a quem serve então? 

Reproduzo o Tijolaço: http://tijolaco.com.br/blog/?p=22746


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O mestre Janio de Freitas – sempre ele, quase só ele – traça um retrato que a imprensa, no seu afã de abanar tudo o que possa ser foco de dificuldades para Dilma Rousseff, tem sido incapaz de traçar.
Mostra como é, de fato, a luta entre o PMDB presidido por Michel Temer e a parte da bancada liderada por Eduardo Cunha, um personagem tenebroso no qual se depositam esperanças de vir a ser o “derrubador parlamentar” da expressão eleitoral do povo brasileiro.
Janio demonstra como Cunha se oferece – e aos deputados que lidera – como uma esfinge sem mistérios, da qual o desafio ao governo é um “atenda-me ou te devorarei”.
Mas que, também, negocia com a oposição a condição de príncipe da sabotagem, que lhe renda poder, vantagens e uma liderança política incompatível com sua pequenez moral.
Janio diz tudo, mas atrevo-me a uma pequena e burlesca contribuição de testemunha ao que diz Janio sobre as artes de Eduardo Cunha é frente da Telerj no Governo Collor. Por meio de um secretário de Estado, foi ao Palácio Laranjeiras, no início do segundo governo Brizola, levar um dos primeiros telefones celulares a opoerar aqui. Um trambolho, que funcionava numa maleta e servia apenas para fazer peso. Brizola recebeu aquele traste e nunca, que eu visse, o usou. A única ligação que Cunha tentou com o sabido gaúcho, caiu logo no começo. Quando Garotinho, ainda no PDT, elegeu-se governador, Cunha foi uma das indicações que levou ao rompimento de Brizola com o recém-eleito, quando lhe entregaram as obras da Cehab,pelo apoio de sua rádio evangélica. Se perguntarem a Garotinho, hoje, o que é Eduardo Cunha, tirem antes as crianças de perto.

Encontro contra

Janio de Freitas
Divisão por divisão –esqueceram aquela?– há uma que, sobre ser verdadeira, está sem o reconhecimento de sua importância e, no entanto, é decisiva para muitas das questões suscitadas com o resultado da eleição presidencial.
O PMDB tem agendadas para hoje duas reuniões contraditórias. Vice-presidente reeleito e presidente do partido, Michel Temer reúne governadores e outros eleitos, lideranças e ministros peemedebistas para considerações conjuntas sobre metas do PMDB e sobre projetos passíveis do apoio partidário, em especial a reforma política. Essa pauta da reunião é real, mas o que une todos os temas é a busca de unir também os presentes, contra a contestação a Temer, ou ao comando partidário em geral, organizada pelo deputado Eduardo Cunha, líder da bancada na Câmara.
Marcada a reunião no Palácio Jaburu por Michel Temer, Eduardo Cunha saiu com a represália: convocou os seus deputados para reunião também hoje. As aparências oferecidas por ele são de que age para defender o objetivo de eleger-se presidente da Câmara. Mas, antes mesmo de expor tal propósito, veio emitindo sinais de um plano de dissensão. Desde logo, por exemplo, com a condução da bancada em frequente oposição à linha do partido. Todos os assuntos pareceram ser-lhe úteis para ser visto como um problema em crescimento.
Eduardo Cunha entrará muito fortalecido na nova Câmara. Adotou uma igreja evangélica, que lhe assegurou votação extraordinária, obteve grande apoio financeiro para candidatos a deputado e não se limitou a ajudar correligionários diretos. É dotado de sagacidade muito aguda e de audácia que ainda não mostrou limite algum, ao impulso de ambições que se revelam sempre maiores do que o já espantoso.
A solução interna dos peemedebistas terá o mesmo significado para o PMDB e para o governo. O predomínio continuado do comando com Michel Temer e sua corrente levará à permanência do convívio peemedebista com Dilma Rousseff, com o governo e com o PT, sem maiores alterações. Incluída a composição em torno da eventual reforma política e de outras possíveis reformas. Esse peso decisivo do PMDB se refletirá, portanto, nas tendências do Congresso e, em particular, da Câmara semelhantes às atuais.
O êxito de Eduardo Cunha levará ao desalinhamento entre PMDB e governo, sem que daí se deduza o alinhamento à oposição. Ser disputado aumenta o valor. E o maior valor torna mais fácil abrir caminhos para o objetivo. É o que Eduardo Cunha tem feito, desde que surgiu, como do nada, recebendo de PC Farias já o cargo, com múltiplas utilidades, de presidente da telefônica do Rio.
A cara do Congresso que se instalará em 2015 está na dependência de como se decida a divisão do PMDB.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

A MÍDIA E SEUS SILÊNCIOS ENSURDECEDORES


Grécia: mudança de regime

"Para a Europa, o risco não é o Tsipras, mas sim a Merkel". Essa verdade dita há algumas semanas por Thomas Piketty me deu um choque de otimismo.


Luciana Castellina
DIE LINKE. in Europa / Flickr
“Para a Europa, o risco não é o Tsipras, mas sim a Merkel”. Essa verdade dita há algumas semanas por [Thomas] Piketty me deu um choque de otimismo. Porque Piketty, embora não tenha qualquer poder deliberativo, é tido como uma voz ouvida e respeitada (não é preciso pensar mais nada após as cifras astronômicas de venda do seu último livro); e embora isso ocorra cada vez menos, a opinião pública ainda conta um pouco.

No mais, Piketty não é o único economista importante que se expressou dessa forma sobre o Syriza: nos jornais mais importantes da Europa e inclusive dos Estados Unidos, não foram poucas as vozes autorizadas que analisaram com seriedade o programa do partido vencedor das eleições gregas e chegaram à conclusão de que não é fruto de um extremismo insensato, mas sim propostas que podem, em boa medida, ser compartilhadas.

Se isso aconteceu, é porque Tsipras obteve o apoio não apenas de uma parcela tão grande do povo grego que pede justiça, mas também de um núcleo apreciável de economistas do país que se tornaram seus conselheiros (e alguns em candidatos a ministro). Trata-se de antigos estudantes gregos que, como tantos outros, migraram para todo o mundo a fim de cursar universidades de excelência no Reino Unido, na França, na Alemanha e também nos Estados Unidos. Por isso, eles são conhecidos e estudados também fora de seu país.

O poder deliberativo está agora nas mãos desse executivo da União Europeia, que justamente em sua última reunião – surdo e cego em relação à realidade grega --, reafirmou suas habituais posturas: não a qualquer reestruturação da dívida senão apenas um breve prolongamento do prazo de devolução. Totalmente insuficiente para assentar uma política a longo prazo destinada a garantir uma recuperação econômica necessária.

Nem as anunciadas promessas de aumento da liquidez anunciadas pelo BCE (a QE, quantitative easing) parecem poder ajudar de verdade: aí está a experiência dos últimos anos para demonstrar que, a cada vez que os bancos conseguem dinheiro, se apressam em emprestá-lo aos grandes, que dispõem de maior segurança, e não aos protagonistas de uma medida estendida e pequena economia autóctone.

O que a Grécia pede não é uma esmola, mas meios para implementar um novo modelo de desenvolvimento que não seja reproduzir esse outro heterodirigido, adotado em anos passados pelos especuladores estrangeiros em parceria com os locais, responsáveis por levar o país à catástrofe.

Sem propor sequer algumas dúvidas de autocrítica, nem o executivo europeu nem os governos que sustentam essas posições têm intenção de compreender que não se sairá da crise exceto mediante uma transformação radical, não se limitando a permitir aos cidadãos um pouco mais de consumo inútil nas redes de supermercados internacionais (o modelo dos 80 euros de Renzi).

A vitória do Syriza ajuda a repensar esse tipo de problema.
 
Luciana Castellina é uma reconhecida jornalista e analista política italiana que colabora regularmente com o jornal comunista Il Manifesto. Foi membro do partido socialista e pacifista Democracia Proletária e logo da Refundação Comunista. Foi deputada no Parlamento italiano e no europeu. Recentemente, aderiu ao chamamento a uma lista unitária da esquerda italiana para as eleições europeias, impulsionado por figuras como Luigi Ferrajoli, Rossanna Rossanda, Pietro Ingrao e Danilo Zolo.
 
Tradução de Daniella Cambaúva


Créditos da foto: DIE LINKE. in Europa / Flickr



Enfim, o mundo que ainda conta com alguma crítica se rende a realidade avassaladoramente óbvia da Europa: o neoliberalismo morreu e foi enterrado em 2008.

Naquele ano o Estado que se tornou a mais poderosa economia do planeta no início do século XX, os EUA, quebrou e seu governo foi obrigado a "doar" – para evitar eufemismos traiçoeiros – dinheiro do contribuinte norte-americano aos grandes conglomerados com sede naquele país.

Só que a mídia transformou isso num "silêncio ensurdecedor". Mas, a história caminha, apesar dos percalços e dos incautos desinformados.