O Brasil é um país cujo povo jamais poderia negar que Deus tem uma
atenção especial por ele. Afinal, temos uma das piores elites do mundo. Uma
elite que não queria industrialização, mas foi derrotada por um político que
nasceu de suas entranhas.
Nossos políticos, pelo menos a maioria, sempre buscaram -
como convinha aos herdeiros da casa-grande - as tetas do estado. Os
intelectuais que muitas vezes consideravam o "povo brasileiro" nos
seus estudos, muito pouco o encarava pessoalmente ou o tinha em grande conta.
Na maioria dos casos, nem mesmo gostavam de seu convívio.
Os artistas, quando se aproximam ou era pelo que ele lhe conferia
em bens e prestígio, ou por uma admiração explícita que sempre gera bons
resultados. Mas, ao se aproximarem do povo, os artistas são abandonados pela Academia que os considera "populares"
demais.
Se tudo isso não bastasse, a nossa "esquerda" é abjeta
de tão tacanha. Sua avidez pelo poder é de tal ordem que na época do golpe de
1964 suas disputas internas, sua pretensão sem limites e uma falta completa de
reconhecimento da luta no campo político – faltas gravíssimas no campo do
combate - CONCEDEU aos adversários a vitória. Noutros termos, não foram a
elite nacional e internacional, os grandes interesses do capital que venceram,
tendo como testa-de-ferro os militares, mas as esquerdas que perderam a guerra.
Uma vitória estrondosa que, entre mortos, torturados, feridos e
desaparecidos espicaçou o pobre povo brasileiro. Um erro que permitiu a
instalação de uma ditadura de alma fascista e face liberal (nunca democrática
como se viu) que perdurou por longos e tenebrosos vinte e um anos. Um período
no qual nossos interesses coletivos foram "alienados" aos
internacionais e/ou das elites, legando ao povo, na saída em 1985, a maior dívida
externa do mundo, a maior inflação do mundo, um dos mais baixos salários
mínimos do mundo, uma sociedade das mais desiguais do planeta, com tudo o que
isso significa em termos de miséria, abandono da infância e adolescência, além
de uma educação privada e precária, quando existia e uma estrutura de trabalho
desumana, marcada por uma exploração abusiva.
Mas, a história nas mãos dos povos avança, mesmo quando eles são
negados – afinal, são os povos é fazem acontecer. Veio o fim da ditadura, mas
fomos enganados por neoliberais travestidos de socialdemocratas por dois
mandatos, o segundo comprado com o dinheiro arrecadado com a venda do
patrimônio público amealhado ao longo da ditadura, como a VALE DO RIO DOCE que,
depois de meio século de pesquisas sobre nossas jazidas de minérios foi vendida
por um preço irrisório. Uma década depois se tornou a maior empresa de extração
de minérios do mundo... legando ao povo as valas e outros dejetos de sua
obra.
Os neoliberais tupiniquins preparavam-se para vender a PETROBRAX
nas mesmas condições: doações com papeis podres e empréstimos, pasmem, do banco
responsável por fomentar a economia NACIONAL. Ou seja, nem dinheiro do exterior
entrou na negociata. Mas, o maldito legado de inflação alta, desemprego
estrutural e crescimento econômico pífio afastou os neoliberais do poder -
graças a Deus!
Vieram os governos um pouco mais à esquerda, liderados por um
gênio político que ganhou admiração global, sem reverenciar quaisquer outros
políticos, fossem poderosos ou estratégicos. O presidente da maior potência
global, os EUA, referiu-se a ele, publicamente, como: "esse é o
cara!". O cara reduziu a inflação, dobrou o número de universidades,
decuplicou o número de escolas técnicas federais, transtornando-as em centro de
formação de mão de obra qua-li-fi-ca-da. Instituiu a recuperação do valor real
do salário mínimo, conferindo-lhe aumentos superiores aos da inflação por uma
década. Instaurou programas de inclusão social cuja eficácia e resultados os
fizeram ser copiados pela ONU. Incluiu uma população equivalente a da Argentina
no mercado consumidor brasileiro, além de ter implantado uma política
internacional independente. Isso em meio a maior crise do capitalismo global,
desde 1929, a crise que ninguém viu, que desapareceu da mídia a que quebrou a
maior potência mundial e louvou os demais países/potências neoliberais juntos:
A CRISE DO CAPITLISMO MNDIAL DE 2008.
Para nossa desgraça, era um metalúrgico. Fosse um professor,
engenheiro, médico, tudo bem... mas, um operário ser tão popular, alcançar
tanto destaque e sucesso nos seus governos? Ninguém da classe média acima
tolerou tamanha petulância. Mas, suas realizações exigiam acertos políticos com
essa mesma corja que sempre mandou no BRasil. Acertos também
com membros e alas divergentes do partido.
Veio o governo Dilma Rousseff que, a meu ver, era uma tentativa de
realizar uma administração mais técnica, de forma a regulamentar a participação
dessa gente na administração pública. A Presidenta fez o que lhe demandaram:
realizou (o que se verá agora na campanha presidencial). Mas, não soube lidar
com o primeiro e mais astuto e poderoso agente social brasileiro: a mídia,
também uma das piores do mundo. Isso foi perigoso, mas não fatal para seu
governo, simplesmente porque ele foi sagaz na hora de lidar com o trio:
tradição voluntarista e autoritária, corrupção, realizações. Um trio que nem
sempre é fácil administrar.
Agora, a beira do maior e mais importante evento do esporte
mundial – a Copa do Mundo, do qual os brasileiros, mais dos que torcedores, são
fanáticos, insurgem movimentos de difícil identificação quanto a origem
política – se de esquerda, direita, ou mesmo sem orientação política clara (não
creio) - que visam comprometê-lo. As "esquerdas mágicas" - aquelas
para as quais "só a revolução é a solução", que acreditam que estão a
frente de uma eminente mobilização nacional em busca de uma sociedade comunista
ou coisa o valha - esquecem quem são seus verdadeiros adversários -
definindo-os: o capital internacional, as grandes corporações, as elites
internacionais, os estados imperialistas, e é lógico, a obtusa elite nacional.
As esquerdas mágicas por que esquisofrênicas, optam por combater a esquerda
"popular"... Perdem a oportunidade de realizarem uma sociedade
igualitária por não estudarem os processos dos quais fgazem parte. Abandonam o
esforço de aprofundarmos a democracia popular em nome de discursos vazios;
crenças mais que teoria, abstratas e visões estreitas da realidade que se
abstêm de analisar.
O povo brasileiro precisa ter claro quais são seus efetivos
adversários e quem os representa e como lutam para a derrota desse mesmo povo.
Só assim não será derrotado novamente por essa gente cuja estreiteza de
horizontes compromete o futuro de gerações de brasileiros e brasileiras que -
ao contrário de seus pais e avós - podem AGORA buscar um (e no) país
melhores condições para viverem, sonharem e até realizarem.
Sob uma visão dessas, é ainda possível pensar que Deus é
brasileiro? Lembrei-me de uma piada infame e, corrigindo-a, diria: um país com
as maiores jazidas de minérios, de petróleo, com o maior parque fluvial e reservas
aquíferas do mundo, as maiores extensões de terras agricultáveis do planeta,
com um povo alegre, trabalhador e criativo pode dar errado? Ao que Deus
responde: você vai ver a elite que vou enviar para lá!
Deus nos ajude!