domingo, 8 de julho de 2012

Professor da UFC escreve carta de resposta a artigo publicado na Revista Época

Professor da UFC escreve carta de resposta a

artigo publicado na Revista Época  

dessa semana contra o movimento grevista dos docentes

Essa semana, a Revista Época e o site do Valor Econômico publicaram o artigo "A greve remunerada dos professores universitários", de autoria do cientista político e ex-professor da Universidade Federal Fluminense Alberto Carlos Almeida. Em resposta ao texto, crítico ao movimento grevista dos docentes, o professor Antonio Caminha Neto, do Departamento de Matemática da Universidade Federal do Ceará, escreveu uma carta ao editor da revista Época explicando os vários motivos que culminaram com a deflagração de greve em 95% das universidades federais do País. Leia, a seguir, a resposta do professor Caminha:

“Prezado Editor,

Após ler o artigo "A greve remunerada dos professores universitários", de Antonio Carlos Almeida, não poderia deixar de escrever-lhes, aliás, com profunda indignação. Primeiramente, saltam aos olhos de qualquer leitor minimamente crítico as várias meias informações e informações contraditórias do texto. O autor se esquece de mencionar que, após quatro anos de graduação, dois de mestrado e quatro de doutorado, um professor universitário recém-contratado recebe, mensalmente, pouco mais de R$5.000 líquidos. Qualquer médico ou engenheiro recém-formado e minimamente competente recebe, mesmo aqui no Nordeste, salário maior ou igual a esse. Por outro lado, quando comparamos esses R$ 5.000 aos R$ 13.600 de salário inicial de um auditor da Receita Federal, fica patente a deterioração salarial dos professores de ensino superior no âmbito da Administração Federal e o descaso do governo em tornar atraente a carreira de professor de ensino superior, tão necessária ao país. O autor tampouco destaca que as negociações de nossa categoria com o Governo Federal, com vistas ao estabelecimento de uma carreira docente digna, vêm se arrastando há um ano, sem que os professores tenham recebido nenhuma proposta concreta. Menciona, ainda, que somente as aulas foram interrompidas, mas as pesquisas não, e que isso se deve a nosso interesse em não perder financiamentos como bolsas de produtividade em pesquisa. Realmente, com o salário que recebemos não podemos nos dar ao luxo de perder as bolsas de produtividade por paralisação das pesquisas, simplesmente porque nossas contas mensais não fechariam; por outro lado, interromper nossas pesquisas equivaleria, no caso de uma greve de médicos, a desligar os aparelhos dos pacientes já internados, o que - decerto o autor concordará - não é razoável. É, ainda, curioso coligir a afirmação que diz, a certa altura, que "os principais centros de pesquisa não entraram em greve", com aquela que diz que "os professores grevistas mantém suas pesquisas em andamento". Em que pese a flagrante contradição entre tais afirmações, gostaria de frisar que várias universidades federais que fazem pesquisas de ponta em volume considerável (a Universidade Federal do Ceará e a do Rio de Janeiro, por exemplo) estão em greve sim. O autor também menciona que, em universidades estrangeiras, há aulas para salas com 100 a 200 alunos. Entretanto, ele se esquece de dizer que os professores dessas aulas contam, em quase 100% dos casos (e me arrisco a afirmar que a London School of Economics é um desses), com um ou dois professores assistentes, que são alunos de doutorado que corrigirão provas e conduzirão aulas de exercícios; eu mesmo, que também estudei em uma universidade estrangeira, servi de professor assistente em aulas de Cálculo. Além disso, essas salas imensas são, em geral, de disciplinas de semestres iniciais ou livres, atendidas por alunos de vários cursos. Por fim, o autor menciona que foi professor da Universidade Federal Fluminense entre 1992 e 2005 e que nunca fez greve durante esse período. Certamente ele não precisava do salário, que era baixíssimo até 2004; por outro lado, fiquei com a curiosidade de perguntar se, fosse a carreira de professor universitário mais atrativa, ele teria saído de lá para o Ipsos e o Instituto Análise.

Leia o artigo "A greve remunerada dos professores universitários" no site do Valor Econômico: http://www.valor.com.br/cultura/2732610/greve-remunerada-nao-pode-funcionar

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Golpe no Paraguai é a nova Condor. Acorda, Bernardo ! | Conversa Afiada

 Saiu na Careta Maior: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=20528

Golpe no Paraguai revela nova face da Operação Condor, diz ativista

Em entrevista à Carta Maior, o mais importante ativista dos direitos humanos paraguaio, Martin Almada, disse que o golpe que destituiu Fernando Lugo da presidência revela a atualidade da Operação Condor, a maior ação articulada de terrorismo de estado já imposta ao povo latino-americano. Para Almada, essa nova Condor é muito mais abrangente do que a iniciada em 1964, no Brasil: é mais suave, global e revestida de uma capa pseudodemocrática, por meio da cooptação dos parlamentos.

Brasília - Em entrevista exclusiva à Carta Maior, o mais importante ativista dos direitos humanos paraguaio, Martin Almada, disse que o recente golpe que destituiu Fernando Lugo da presidência do seu país revela a atualidade da Operação Condor, considerada a maior ação articulada de terrorismo de estado já imposta ao povo latino-americano.

Prêmio Nobel da Paz alternativo, foi Almada quem descobriu, no Paraguai, na década de 90, o chamado “arquivo do terror”, que contém os principais registros conhecidos da Operação Condor, a articulação dos aparelhos repressivos do Brasil, Chile, Argentina, Paraguai e Uruguai que, a partir da década de 1960, sob a coordenação dos Estados Unidos, garantiram o extermínio das forças resistentes à implantação de um modelo econômico favorável aos interesses das oligarquias locais e das multinacionais que elas representam.

O ativista está em Brasília justamente para participar, nesta quinta (5), de um seminário sobre a Operação, promovido pela Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça da Câmara.

Confira a entrevista:

- Como se deu a articulação do golpe que destitui Fernando Lugo da presidência do Paraguai?

Foi uma trama muito bem montada pela direita paraguaia. E quando digo direita paraguaia, me refiro à oligarquia Vicuna, aos grandes fazendeiros, me refiro aos donos da terra, os plantadores de soja transgênica, me refiro às multinacionais, como a Cargil e a Monsanto, e também aos partidos tradicionais ligados a essas oligarquias. É um caso muito particular de golpe.

- Mas é possível compará-lo, por exemplo, com o golpe que ocorreu em Honduras?

Ao contrário do que muitos dizem, não se pode comparar. Foram golpes completamente diferentes. Em Honduras, o exército norte-americano interviu, junto com as tropas hondurenhas. A embaixada americana teve uma atuação clara. O presidente caiu em sua cama. No Paraguai, tudo foi articulado via parlamento, que é a instituição mais corrupta do país. No fundo, é claro, sem aparecer, também estava a embaixada americana. Mas sua participação se deu através das organizações não governamentais (ONGs) e dos órgãos de inteligência. Normalmente, um golpe de estado, como ocorreu em Honduras, se dá com tiroteio, bomba, pólvora, morte. No Paraguai, não houve tiroteio, não houve pólvora. O que rolou foi muito dinheiro, muitos dólares.

- E como se comportou a imprensa paraguaia?

Os meios de comunicação estavam todos a serviço do golpe. É por isso que digo que foi um golpe perfeito: quando o presidente golpista assumiu, se cantou o hino nacional com uma orquestra. E uma orquestra de câmara. Foi um golpe planificado com muita antecipação.

- E onde estava o povo, os movimentos organizados que não saíram às ruas?

O presidente Lugo cometeu muitos erros. Primeiro, quando ocorreu a morte de sete policiais e onze camponeses, eu penso, como defensor dos direitos humanos, que tanto a polícia quanto os camponeses eram inocentes. Aquele conflito foi uma trama. Os policiais usavam colete à prova de balas, mas os tiros ultrapassaram estes coletes. E nós sabemos que as armas usadas pelos camponeses são muito artesanais. Não teriam essa capacidade. O que nós imaginamos é que haviam infiltrados com armas muito potentes. E Lugo, após o conflito, fez uma declaração péssima: condenou os camponeses e prestou condolências aos familiares dos policiais. Isso caiu muito mal. Segundo, Lugo firmou uma lei repressiva, uma lei de tolerância zero. Outro erro de Lugo foi firmar acordo com a Colômbia para assessorar a polícia paraguaia.

- Para tentar se manter no poder, ele fez concessões à direita que o desgastaram com as classes populares. É isso?

Exatamente. Então, no momento do golpe, o povo não saiu às ruas. Na verdade, foram dois motivos. Primeiro, a frustração, a indignação e o desencanto com Lugo. Segundo, no Paraguai, as pessoas com mais de 40 anos têm muito medo. Porque nós não vivemos 20 anos de ditadura. Nós vivemos 60. Então, só os jovens saíram às ruas. Aliás sempre, no Paraguai, as manifestações de ruas são protagonizadas por jovens, que tem uma coragem admirável.

- Como o senhor avalia a posição dos demais países do Mercosul e da Unasul de condenarem o golpe?

Este golpe foi um golpe ao Mercosul, um golpe à Unasul, porque Lugo tinha boas relações com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, com o presidente da Bolívia, Evo Morales... e isso desagradava. Lugo, com todos os seus defeitos, melhorou a saúde do povo, melhorou a educação, deu alimentação nas escolas, comida, merenda. Nem tudo estava mal. Mas ao invés de premiar Lugo, o castigaram. É por isso que acreditamos que foi um golpe à unidade regional. Uma conspiração contra a unidade da região, contra a pátria grande com que sonhou Martin Bolívar para todos os latinoamericanos. Isso atenta contra todos. Pode ocorrer, amanhã, aqui, na Argentina... na Bolívia tentam um golpe de estado, no Equador também.

- Então, como na Operação Condor, é uma ameaça a toda a América Latina?

O golpe no Paraguai é a Condor se revelando. É prova que a Condor está se revelando com outro método. Uma Condor mais moderna, mais suave e mais parlamentar.

- E como o campo progressista pode reagir?

Esta reunião aqui no parlamento brasileiro para tratar da Operação Condor, por exemplo, é de extrema importância. Porque já é possível identificar três fases desta Operação. A primeira, que começou aqui no Brasil, em 1964, com a queda do presidente João Goulart, era uma Condor bilateral: Brasil-Argentina, Brasil-Paraguai, Brasil-Uruguai. A segunda, em 1975, já era uma Condor multilateral, com um acordo ratificado entre as ditaduras dos cinco países. Agora, a Condor é global. Depois dos eventos de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, se revelou que havia centros clandestinos de tortura americanos até na Europa. Portanto, há uma Condor global. E nós temos que entender o que é a Operação Condor, como ela funciona, quem a dirige... porque quem dirige a Condor é também quem dirige a Organização das Nações Unidas, o Pentágono, a máfia das drogas...


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