Há poucos anos rendi-me ao Facebook porque acho que as novas
mídias podem contribuir para uma democratização das sociedades, ainda não sejam
solução absoluta, como nada o é por princípio. Ando meio cansado do debate que
tem rolado nesses espaços, pois vejo gente radicalizando o viés ideológico de
suas análises e críticas, sem o menor motivo.
Nessa trajetória já li que o sociólogo Pierre Bourdieu não era marxista e ouvi que os governos do PT eram ditaduras. Ora, essas duas expressões
isoladas podem dar impressão de eu estar manipulando, mas não. Faz-se isso da
mesma forma que chamam o regime da Venezuela de ditadura ou categorizam Paulo
Freire de marxista noutras searas.
O mesmo debate retira os governos do PT da esquerda e os
igualam aos do PSDB. Confundem governos revolucionários, como os que se
constituíram “logo” depois das revoluções Francesa de 1789, Russa de 1917, Chinesa
de 1949, Cubana de 1959, com outros governos eleitos e empossados em regimes
democráticos, como de Salvador Allende, no Chile e os do Lula e Dilma no
Brasil.
Me pergunto se as pessoas realmente pensam no que escrevem,
ou escrevem para que pensem nelas. Afinal, não é muito diferente o Rodrigo
Constantino ou outro energúmeno da Veja dizer que a maior corrupção da história
do Brasil foi o “mensalão” do PT, frente à “doação” das estatais brasileiras
durante os governos do FHC, como a Vale do Rio Doce, ou alguém detonar o Lula
e/ou a Dilma, frente ao fim da miséria absoluta e da fome no Brasil, além é
claro dos inegáveis avanços noutras áreas, como educação, ou em segmentos
sociais desfavorecidos, com efetiva distribuição da riqueza nacional.
É também verdade que a distribuição de riqueza não foi
satisfatória, ou mesmo que os investimentos em educação não tenham sido
suficientes; outras áreas, como saúde ainda hoje está na berlinda. Mas, estes “investimentos”
sociais – vamos chamá-los assim – foram os mais significativos na história do
país no caso da distribuição da renda, ou os maiores da história, no caso da
educação. São dados, não discursos ou argumentos. Basta consultar o IBGE ou os
levantamentos históricos realizados.
Negligenciar isso é, no mínimo, má fé. Negar esses avanços,
seja no campo da direita ou esquerda, não é diferente e, definitivamente, não
representa a menor contribuição a um debate honesto sobre as reais necessidades
da nação brasileira. Muito ao contrário, torna o debate rasteiro e sem
elementos significativos, impede que sejam esclarecedores para a maioria da
população que é desinformada e deseducada, quando não manipulada.
Venho insistindo muito em defender que um debate político
com esse nível – ou falta de – sofisticação analítica é muito mais prejudicial
que enriquecedor, considerando a imensa maioria da população. Assim, nossa
contribuição vai noutra direção: desinformamos, deseducamos, confundimos e,
sobretudo, mantemos o debate onde a direita sempre o quer: ao rés do chão,
esquemática, sem a consistência necessária a um verdadeiro avanço na
consciência política da sociedade. Noutros termos, mantemos o debate onde ele
jamais deixa de estar: distante dos verdadeiros avanços que já foram alcançados
noutros países, em muitos dos quais não houve revolução, mas há uma população muito
mais esclarecida – Suécia, Noruega, Islândia, por exemplo.
Aí me pergunto, a quem serve mesmo manter o debate assim?