segunda-feira, 22 de junho de 2015

A QUEM INTERESSA MANTER O DEBATE POLÍTICO TÃO RASTEIRO? Ou porque não avançar?

Há poucos anos rendi-me ao Facebook porque acho que as novas mídias podem contribuir para uma democratização das sociedades, ainda não sejam solução absoluta, como nada o é por princípio. Ando meio cansado do debate que tem rolado nesses espaços, pois vejo gente radicalizando o viés ideológico de suas análises e críticas, sem o menor motivo.

Nessa trajetória já li que o sociólogo Pierre Bourdieu não era marxista e ouvi que os governos do PT eram ditaduras. Ora, essas duas expressões isoladas podem dar impressão de eu estar manipulando, mas não. Faz-se isso da mesma forma que chamam o regime da Venezuela de ditadura ou categorizam Paulo Freire de marxista noutras searas.

O mesmo debate retira os governos do PT da esquerda e os igualam aos do PSDB. Confundem governos revolucionários, como os que se constituíram “logo” depois das revoluções Francesa de 1789, Russa de 1917, Chinesa de 1949, Cubana de 1959, com outros governos eleitos e empossados em regimes democráticos, como de Salvador Allende, no Chile e os do Lula e Dilma no Brasil.

Me pergunto se as pessoas realmente pensam no que escrevem, ou escrevem para que pensem nelas. Afinal, não é muito diferente o Rodrigo Constantino ou outro energúmeno da Veja dizer que a maior corrupção da história do Brasil foi o “mensalão” do PT, frente à “doação” das estatais brasileiras durante os governos do FHC, como a Vale do Rio Doce, ou alguém detonar o Lula e/ou a Dilma, frente ao fim da miséria absoluta e da fome no Brasil, além é claro dos inegáveis avanços noutras áreas, como educação, ou em segmentos sociais desfavorecidos, com efetiva distribuição da riqueza nacional.

É também verdade que a distribuição de riqueza não foi satisfatória, ou mesmo que os investimentos em educação não tenham sido suficientes; outras áreas, como saúde ainda hoje está na berlinda. Mas, estes “investimentos” sociais – vamos chamá-los assim – foram os mais significativos na história do país no caso da distribuição da renda, ou os maiores da história, no caso da educação. São dados, não discursos ou argumentos. Basta consultar o IBGE ou os levantamentos históricos realizados.

Negligenciar isso é, no mínimo, má fé. Negar esses avanços, seja no campo da direita ou esquerda, não é diferente e, definitivamente, não representa a menor contribuição a um debate honesto sobre as reais necessidades da nação brasileira. Muito ao contrário, torna o debate rasteiro e sem elementos significativos, impede que sejam esclarecedores para a maioria da população que é desinformada e deseducada, quando não manipulada.

Venho insistindo muito em defender que um debate político com esse nível – ou falta de – sofisticação analítica é muito mais prejudicial que enriquecedor, considerando a imensa maioria da população. Assim, nossa contribuição vai noutra direção: desinformamos, deseducamos, confundimos e, sobretudo, mantemos o debate onde a direita sempre o quer: ao rés do chão, esquemática, sem a consistência necessária a um verdadeiro avanço na consciência política da sociedade. Noutros termos, mantemos o debate onde ele jamais deixa de estar: distante dos verdadeiros avanços que já foram alcançados noutros países, em muitos dos quais não houve revolução, mas há uma população muito mais esclarecida – Suécia, Noruega, Islândia, por exemplo.


Aí me pergunto, a quem serve mesmo manter o debate assim?