terça-feira, 9 de setembro de 2014

Venício: manchetômetro até na foto ! | Conversa Afiada

Venício: manchetômetro até na foto ! | Conversa Afiada



A CAPA DO ‘CORREIO BRAZILIENSE’


Por Venício A. de Lima em 09/09/2014 na edição 815


A foto abaixo (11,8 x 19,6 cm, na edição original) está na primeira página da edição de segunda-feira (8/9) do Correio Braziliense (VER AQUI). É de autoria do fotógrafo Daniel Ferreira, que trabalha para o Correio e para a D.A. Press, ambos do grupo dos Diários Associados.


Estando na capa, por óbvio, trata-se de uma escolha e é de responsabilidade dos editores do jornal.



Observe o leitor(a) que a foto coloca deliberadamente o rosto da presidente da República, Dilma Rousseff, na mira de uma metralhadora do carro blindado do Exército Brasileiro, que desfila na parada de 7 de setembro, em Brasília.


Qual a mensagem implícita/explícita na foto?


É normalmente aceito como sendo de Confúcio, filósofo chinês que viveu no século V antes de Cristo, a conhecida frase “uma imagem vale mais que mil palavras”. Os que vivemos no mundo contemporâneo sabemos que a afirmação de Confúcio permanece atualíssima, vinte e cinco séculos depois, nestes tempos marcados por imagens de todos os tipos, do cinema, da televisão, das fotos popularizadas digitalmente nas redes da internet.


O que estaria o Correio Braziliense sugerindo a seus leitores(as) com a foto publicada na capa do jornal?


Nela está a maior autoridade da República brasileira, no palanque oficial, rodeada de outras autoridades constituídas, assistindo ao desfile da data símbolo da pátria brasileira: o 7 de setembro, dia de nossa independência.


A foto foi cuidadosamente selecionada, entre centenas de outras disponíveis. É, portanto, legítimo concluir que havia, sim, uma intenção orientando a escolha.


O jornalista que fez a edição da foto para o Correio Braziliense (e respondeu a meu e-mail sobre as razões da escolha) a considerou excelente e a melhor ilustração para o noticiário político do dia.


CREDIBILIDADE DA DEMOCRACIA


Para além da partidarização inequívoca da grande mídia brasileira e diante de exemplos sucessivos, parece que ela não está sendo capaz de fazer uma distinção fundamental, sobretudo agora, em tempos de campanha eleitoral: a distinção entre o ritual dos cargos públicos, os símbolos nacionais, a institucionalidade da política, dos políticos, dos ocupantes dos mais elevados cargos públicos da democracia representativa brasileira; e sua opinião/posição (dela, grande mídia) em relação a esses eventuais ocupantes.


As consequências dessa “não-distinção” podem ser trágicas para a própria democracia. Ao se desrespeitar reiteradamente eventuais ocupantes de altos cargos públicos, inclusive em fotos com insinuações inconfessáveis, esse desrespeito é transferido para as instituições e a credibilidade da própria democracia. Como mostrou há décadas a professora Maria do Carmo Campello de Souza, “o teor exclusivamente denunciatório de grande parte das informações [dos meios de comunicação] acaba por estabelecer junto à sociedade (…) uma ligação direta e extremamente nefasta entre a desmoralização da atual conjuntura e a substância mesma dos regimes democráticos”.


No atual nível de partidarização da grande mídia brasileira, não há solução de curto prazo para que se desfaça esta confusão nefasta. A cobertura adversa e a desqualificação da polÍtica e dos políticos é sua pauta preferencial. Resta torcer para que a democracia representativa brasileira sobreviva a uma grande mídia que, apesar de se apresentar como sua principal defensora, corrói, cotidiana e reiteradamente, seus fundamentos mais caros.


A ver.


***


Venício A. Lima é jornalista e sociólogo, professor titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado), pesquisador do Centro de Estudos Republicanos Brasileiros (Cerbras) da UFMG e organizador de Para Garantir o Direito à Comunicação – A Lei Argentina, o Relatório Leveson e o HGL da União Europeia, Perseu Abramo/Maurício Grabois, 2014; entre outros livros



Clique aqui para ler “Manchetômetro: Dilma perde de 234 a 18″.

Aqui para ler “Manchetômetro: jn surra Dilma por 82 a 3″.

aqui para ler “Manchetômetro: PiG lincha a Dilma !”.

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